13º Caderno

Sambista criado nas terras da paulicéia
Neto de escravos guerreiros
Batizado em Pirapora
Onde aprendeu ser batuqueiro
Nas rodas de samba da Barra Funda
A sua fama conquistou
Lá no Bixiga ele levanto poeira
Na tiririca deu rasteira
Do samba paulista foi um professor
Em verso exaltou sua terra tão querida
Entoou o seu samba na avenida
Foi do povo negro um defensor

E mostrou
Que tem samba na terra da garoa
Também provou
Que São Paulo tem bamba, sim, senhor!

Ô lê lê, ô lá lá
Glória ao grande poeta popular
Ô lê lê, ô lá lá
Vamos Geraldo Filme saudar

Moreninha de mangueira
É do morro a mais bela
Verde é seu olhar
Rosa é teu cheiro
Seu gingado é uma aquarela

Vai descendo a ladeira
Vai... vai trabalhar
Acorda bem cedo
Rala o dia inteiro
E ainda tem que estudar

E eu aqui no meu submundo
De gerente a vagabundo
Carregando meu segredo
Hoje arrependido
Vivo um amor bandido
Sonho um dia perde o medo

Até parece um conto de fadas
Estou entre a cruz e a espada
Por favor, me mande um sinal.
Neste carnaval
Da estação primeira
Serei o mestre-sala
E ela a porta-bandeira

Queira me perdoar
Desilusão causei
Não foi a intenção, posso jurar
Sabendo do pranto nos olhos teus
Nem mesmo posso te encarar
Adeus

Sei que andou derramando lágrimas
E aportou no cais da imensa dor
Pois você se entregou
Quis viver junto a mim

Mas nem assim
Pude jurar-te amor
Peço, por fim, que não guarde rancor
Deixe-me ir, em paz, não vou me arrepender
Embora eu espere que você...

Na comida posta à mesa
Na lâmpada acessa
Na parede no reboque
Na coberta que te cobre
No cimento misturado
No ferro retorcido
Do edifício construído
Elegante e nobre

Tem mão de pobre, tem
Tem mão de pobre

No tambor, também no culto
No bolso sem um puto
Contando migalhas
Esperando, que uma sobre, tem

Tem mão de pobre,
Tem mão de pobre

À frente das guerras da história da terra
Regando e plantando um pequeno alfobre
Em tudo que se vê o reparo redobre
E assim vai perceber do ouro ao cobre
Sempre tem

Tem mão de pobre,

Nos milagres do Egito
Na luz de Maria
Tem na cruz do sacrifício
E é por isso que eu insisto em dizer

Tem mão de pobre,
Em tudo que se vê
Tem mão de pobre

Outro amor
Findou nesse jogo de azar
Causando a dor
Ninguém soube dos tantos às
Que eu escondia
Já não há curinga que possa nos salvar

Me envolvi
Nos beijos e blefes dessa cruel partida
Paguei o caro penhor da tua mentira
Já passa da hora e a mesa vai virar

Pra frente a vida
Sigo o meu caminho, dispenso sua dó
Pra frente a vida
Que o desengano vem sempre em menor
Pra frente a vida
Se nesse seu jogo fui mais uma só
Pra frente a vida
Se do seu baralho fui carta pior

Outro amor...

Eu admito a culpa
Desculpas podem não adiantar eu sei
Mas mesmo assim, venho pedir perdão.
Obedecendo as ordens da paixão
Que fez morada no meu coração
É um gosto tão bão de provar
Doçura do mel que não findará

Jamais faça do amor seu próprio jogo
Porque quem brinca com fogo
Cedo ou tarde alguém se queima
Sem passar por tira-teima
Contamina sua alma e faz sangrar o peito

Talvez quando quiser me perdoas seja tarde
Tudo que era lindo se desfez
Vou seguindo o meu caminho
Apesar de seus carinhos
Me pergunto onde é que eu errei... Laraiá... laraiá

Quando o chicote estalou
no corpo do indío guerreiro
Não teve espelho ou dinheiro
que comprasse sua dor

Quando o nego gritou
Ao som do tambor de Benin
Nenhum jesuíta pôs fim
E esse canto não catequisou

E quanto mais ecoava
O canto que o povo cantava
Um pé de samba brotava
E criava raiz

Pelo país se estendeu
Nos becos e de todas cidades
Assim o samba nasceu
Abraçando as pluralidades

Samba de breque de coco
De roda, pernada, cadente, Ijexá

Sincopado, partido alto
Carioca, paulista, baiano, rural

Sambista antigo, sambista atual
Salve o samba, nosso som plural

Eh! Lua cheia...

Lua cheia, lua cheia
Nosso terreiro o teu brilho é que clareia
Lua cheia, lua cheia
Iluminai nosso terreiro a noite inteira
Lua cheia, Lua cheia,
Tua magia
Nosso samba é quem semeia

E a gente canta e samba e é feliz
Nosso samba incendeia
A lua triste musa faz brotar inspiração
E num samba dolente, a suave emoção
Num samba pegado, rasgado, incendeia
Faz a nossa gente agitar

Sigo contente vou lá
Vou no terreiro cantar
Curtir o samba até o dia clarear

Quando eu canto a minha valsa
E começo um novo dia
Vendo o sol me aquecendo
Só bebendo a nostalgia

Esquecendo de viver
Eu tropeço na fantasia
Quanto mais eu não te quero
Mais resisto nesta utopia

E eu me pergunto
Porque comigo
Se é um castigo
Não ter você
Calam-se todos os meus versos
Me abando a inspiração
Olha musa eu te peço
Só não trai
Meu coração

Nas voltas que o mundo dá, cuidado pra não errar
Respeite o dia do homem, respeite o dia do mar
Quem apanha nunca esquece, quem bate pode esquecer
Hoje eu estou apanhando, amanhã será você.

Humilde é quem com fé ajoelha pede perdão
Fazendo o sinal da cruz clamando proteção
Não conde o arrependido que está em penitência
Pois julgar pertence a Deus senhor da onipotência.

Cai chuva vem molhar o nosso chão
Solo fértil nasce o trigo, o arroz e o feijão
Preserve a terra mão fonte de alimentação

Levante quem está caído, estendendo sua mão
Não cuspa no prato que come, é falta de educação
Respeito é uma virtude, ajudar sem olhar a quem
Quem não entende tudo passa nas voltas que o mundo tem.

Caminhei pela rua
Olhei para a lua
Pedi proteção
Agradeço a São Jorge
Meu santo, de Devoção

Vou cantar pra Ogum,
A ele vou exaltar,
Canto com muita fé,
Pro meu pai me abençoar,
Em seu cavalo branco,
Ele vem para nos ajudar
Guia-me por essa estrada e me ensine a caminha...

Aquela lua que brilha,
Lá no céu junto as estrelas,
Lá é a casa de Jorge,
Que nos olha com mais clareza,
Com sua armadura no corpo,
E sua espada em suas mãos,
Ele vem lá da lua cheia pra lhe dar muita proteção...

Sorriste, ironizando o meu amor
E na triste despedida
Tu me deixaste assim tão triste
Maltratado pela dor

A madeira chora
Quando separada da raiz
O homem chora
Ao se lembrar que foi feliz (2x)

Ainda trago em meu peito enraizado
O sentimento que outrora nos uniu
Nem se quer por um segundo tive paz
Desde que você partiu
Conheci o sofrimento
E o eterno desalento
Vivendo sob o julgo de sua lembrança
Sou consciente que errei
E do quanto lhe magoei
Mas em seu perdão alimento a esperança